Friday, September 28, 2012

é noite serena
é dia comum
de grito de gato vadio
de lamento de gente
das telhas de zinco
prateando o escuro
é dia de come together
vazando pelas paredes
do vizinho psicótico amável
fazendo companhia
à minha fiel loucura.
 é rock no meu samba
pedais invadinho
meu batuque
os delírios
com a minha ceci
do cabaré
é noite fria afora
ouvindo atentamente
os relatos dos outros
falta de humanidade-alheia
a toda a insônia
que se instala
na falta de esperança

já nem sei mais que isso.

corda no pescoço
e dois dedos de folga
prum respiro espaçado.
lá fora os trânsitos afogados
das marginais.
2013, já vens tarde. 

Thursday, September 27, 2012

Dona

A mulher de cabelo acaju
e lábios bordô
me acena o bom dia tão seu.
Fala mansa,
olhos quase-de-vidro
de tão fixos
em coisa alguma.
Bom dia Mar-ce-li-nha,
tu-do bem
com vo-cê?
- Pelos óculos
pendurados por um cordão de contas.
Passa por mim
Passo a passo
Lenta
Descendo os degraus
Perna a perna
Como se vivesse
na clausura
sem movimento
daquele terno
de todo dia.
Com a calça alinhada de segunda
e a camisa branca do botão dourado,
passa pelo corredor
rangendo tacos e ossos
e senta-se só
atrás da máquina de escrever.
O bater de teclas
ritmado e cardíaco
é o mantra da sala.  

Quando sai do trabalho
Mirtes vai dançar.

Lá no Largo

quinta cedinho,
dia gelado perdido no verão
raios tímidos explodindo laranja
e a secura rasgando a garganta.
Frente fria traz o o som
do homem de terno preto
o sax meloso ecoando
pelas beiradas do largo
inebriando as pombas imundas
da nossa Santa Cecília,
padroeira dos andarilhos
e farrapos em geral.
O homem preto de preto,
cego.
Ralenta as melodias
pra tocar fundo
nossos corações desenganados.
Mas o ônibus tá atrasado de novo,
fica pra outra vez.

Tuesday, September 18, 2012

verão

revoada de papel, asas de metal. origamis debatendo-se de um lado pro outro nas paredes de tecido azul do céu, gaiolas subdvidividas ao infinito, polígonos de células, quinas que contraem-se  e desfazem-se em lados perdidos, chuva de confete prateado, piscina de penas plumas espumas, ventania, poeira e o sol árido. vapores subindo dos paralelepípedos e aqueles passáros de papel machê do verão passado voltando da migração a passárgada. eu, sentada à janela sonhando em voar também.

Monday, September 10, 2012

e o teu rosto tão sereno dormindo ao meu lado


é um anúncio de guerra. 


mas me dá mais cinco minutinhos.

nossa senhora dos.

santa mística,
me instiga a
indefinidas
subidas
infinitas,
repletas
das coisas-sonhadas
coladas 
nas abas 
desse bonde inativo
rumo a

o caminho,
sem data de aviso
pra perecer, vem
me oferecer
esse gole aguado
dose indolor
desse santo-remédio
que nunca chega,
me assenta
tardio.

santa, santa
me protege de mim, eu
que não sei rezar
nem rimar



Wednesday, September 05, 2012



Anda, Maria
Pois eu só teria
A minha agonia
Pra te oferecer
Sussurros e surtos ventando pelas janelas do décimo oitavo andar
de uma porta que a numerologia confirmou
aquilo tudo que a gente já sabia.
a imensidão daqueles quartos
e daquele corredor
e daquele céu
ia acabar engolindo nós dois.
E a gente passeou pelos cantos do pensamento
e ruas de idéias
e travessas de sonhos
aos montes
naquela banheira
cheia de bolhas e braços
de mãos dadas
procurando por algum motivo
ou razão ou resposta
pras coisas que explodiam
de dentro pra fora
e que não têm no nome.

Tentando fazer poesia
do vendaval.

A tua sala está cheia de piche

Flanando pelos últimos segundos feito pluma.
Respiro e caio amarga
Espero engolindo
em mim mesmando
esse líquido negro e ardido do destino.

Quase virada-destino-avessa de mim
de todos nós, flutuantes
desse mar de petróleo
e sonhos carcomidos.

Eu já engoli tanto desse piche que somos da mesma matéria
espessa borbulhante.
Sou peixe pixe
Minhas escamas de azulejo
De sereia do lixo.  respirando ar das bolhas
Da enchente negra que invadiu tua sala de ladrilhos brancos.
Reações químicas em polvorosa dentro de mim.

Eu tenho que pagar esta conta
E sair desta espelunca
antes que meus olhos fechem e eu durma como um anjo nessa nojeira.