Thursday, September 02, 2010

"isso não vai dar pé", disse

enquanto surgia como alucinação pelo quarto de carpete queimado. entrou como se sempre estivesse estado lá, pacífica, plena, presente. sentou-se na cama desarrumada tirando as botinas e o maço do bolso. eu, atônita, atenta, não fiz-me de rogada e indaguei, como quem tivesse saudade, afinal, onde é que estava, onde é que tinha passado as noites, onde, onde, meu deus, como saiu assim, sem mais, fechou a porta e virou, como se esquinas não tivessem quinas e desvios não tivessem.. - ela riu. desabotoou a camisa e pediu pra que eu apagasse a luz, porque não conseguia sonhar se estivesse acesa. obedeci, não me recrimine, não posso com aqueles dois olhos azuis me fitando. então voltou? voltei-me para a cama malfeita de qualquer dia comum, em que ela não apareceria mesmo, então não haveria porque não evidenciar o descuido e ao final nem saberia dizer mesmo se era ela quem retornava da partida e sentava-se à meia luz ou era eu mesma que partia toda vez e regressava e tirava dos bolsos os maços vazios e sentava-me ao lado dela cantando qualquer canção cafona que envolvesse amores perdidos e regressos.