Tuesday, November 27, 2007

"Palavras que me aceitam como sou — eu não aceito."

Brigo muito com as palavras. Não devo, temo, não pago.



Existe alguma brecha, entre um suspiro e outro, entre um abaixar as pálpebras e levantar, - ainda sem distinguir cores - no limiar do eu e do mundo, existe aí, em algum canto, um acesso ao mundo real. A gente não aprende a procurar, não aprende a supor que sequer deva procurar. Não aprende a aprender, não aprende.... E por isso a gente rodeia, quando rodeia e não acha, quando não acha, porque eu acho é que a gente acha, todo dia.

Em alguns milímetros de solidão solidificada dá pra encontrar milhões de digitais desse mundo que nunca se viu e dá até pra sentir saudade do que nunca se sentiu. É como se ali, onde tudo é menor e maior ao mesmo tempo - mas não é dissonante - ali onde não há outro alguém a não ser você e já não dá mais pra brincar de viver e de ser, o único gancho, o único chão que te resta é esse sopro do mundo. É isso, é um sopro. Um sopro frio quando o dia tá quente, aquele sopro que quase chega a amenizar o calor porque é frio, mas esfria um micro-centígrado a mais e dá frio no meio do calor.

E essa sensação que se sente nessas horas é tão instável, tão inapreensível pelas palavras que quando ela é pega no ar, já vira outra coisa, e quando se percebe que ela virou outra coisa, ela já desvirou pra outra e assim vai. Parece até que vira do avesso.



E desvira.. e vira...

E cai na via láctea passeando por aí, até encontrar aquela brecha, entre um suspiro e outro, entre um abaixar as pálpebras e levantar, - ainda sem distinguir cores - no limiar do eu e do mundo quando eu já esqueci que era eu.

Wednesday, November 21, 2007

Quem é vegetariano sabe:

Volta e meia aparece neguinho dizendo:
Tentei ser vegetariano.

ou:

Admiro muito vocês, vegetarianos.

ou ainda, muito comum:

Vocês que salvem os animais.!

Enfim, comecei a refletir sobre a questão e cheguei à conclusão de que só dá pra ser vegetariano se você tiver, imanente, a "vibe experimentalista". Aquele ímpeto de abrir a geladeira e misturar tudo o que você quiser, baseado em cores, texturas, formatos ou achismos e suposições. Não dá pra ser vegetariano se essa vibe não estiver em você desde sempre, porque ninguém aguentaria uma vida vegetariana sem a aventura do experimentalismo.... ia ser um marasmo verde e amorfo. Soja todo dia. Arroz e feijão todo dia. Com tofu. Blérgh. Não dá.
Então fica a dica pra quem quer se tornar vegetariano: experimente.
musica experimental, cinema experimental, namoros experimentais, religiões experimentais.. vá com calma, deixe a cozinha por último!