Friday, May 25, 2007

Vi uma cena interessante hoje.

Estava atravessando a Consolação pra chegar na Paulista e vi umas três pessoas de uns 30 anos gritando e correndo: ' Vai, valendo!' - Apostando corrida eu suponho.
Uns metros pra frente, um dos caras derrapou incrivelmente na rua (quase rolou um slow motion, juro..) e eu ri - por dentro, claro.

Andando pela Paulista eu fiquei teorizando sobre o ocorrido.

Se o cara tivesse uns 10 anos, ele nunca teria caído dessa forma. A leveza do corpo, dos movimentos, da falta de responsabilidade, da ausência de muitas memórias relacionadas com tombo na rua (isso a gente deve adquirir com uns 15.. Quando já caímos trocentas zilhões de vezes), de uma criança é algo invejável. É a dança, o sorriso, um passo atrás do outro, uma determinação de chegar mais rápido que dá pra ver nos vincos que se formam na testa. Crianças correndo é uma dessas cenas que tem o prazer estético pulsando.

Um cara de 30 anos não tem mais esse espírito. Ele pode correr e o faz - a vida adulta exige correrias muito mais intensas - mas a cena já não é esteticamente agradável, já não é harmônica. O corpo já não cabe no enquadramento, você precisa dar um close e percebe que os vincos na testa já não são do desafio de chegar mais rápido na frente dos outros meninos do bairro: são pesares, traumas, desilusões, tempo comprimido, teorias, lógicas, responsabilidades, dores dores dores, muitas delas.

De repente a cena que me fez rir se tornou séria.
E também franzi a testa, olhei pra baixo, quis correr.. mas andei.

Adultos não correm.